quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Separados por um muro ( de tecnologia).



Norberto, menino esperto, quer jogar bola na rua. Encantando com as histórias do pai, de quantos amigos ele tinha, de quantas brincadeiras eles faziam, até o entardecer. Norberto viaja, cria coisas nas cabeças, queria ter mais amigos, mas os amigos dele só querem ficar no videogame e no computador. Ele não consegue entender, com a rua toda pra eles, o dia tão bonito, os amigos preferem ficar trancados no quarto olhando as imagens na TV. Sem os amigos, ele aprende a viver nesse mundo, ganha um videogame, e passa sua infância sozinho, só com os amiguinhos de escola, que mesmo assim, não conseguem se desligar da tecnologia.
Norberto cresce se apaixona por Maria, sua vizinha. Seu coração acelera só de ver que ela está online. Chama-a pra conversar, não tê-la frente a frente tira a sua vergonha, e ele fala muito, eles conversam o tempo todo. Quando vê Maria na rua, a timidez toma conta, e ele mal consegue dizer um oi. Norberto é tímido, e precisa do seu computador pra se aproximar de Maria. Maria não, ela é descolada, cheia de amigas, todo mundo gosta dela. Ela é linda, sabe o que quer, faz planos pro futuro. Norberto vai se encantando, cada vez que vê seu perfil na internet. O pai alerta “fala com ela meu filho, olhando nos olhos, quem sabe ela não te dá uma chance?”. Ele não tem coragem.
Eles vão crescendo, ela ficando cada vez mais linda, ele cada vez mais tímido. O computador é sua defesa, ali ele sabe tudo, conversa com todo mundo. Mas no seu mundo real, não tem ninguém. Norberto e Maria batem muitos papos, conversam sobre tudo. Mas, mesmo sendo vizinhos, nunca deram um abraço. A vergonha nunca deixou Norberto se aproximar.
O pai de Norberto recebe uma proposta de emprego em outro estado, eles precisam se mudar. Norberto nunca mais vai ver Maria, a chance é agora. Bater em sua porta e se declarar. Ele pensa em fazer isso, por telefone. Não consegue, vai ter que ser digitando. Ele bola o texto, faz rascunho, pega o celular. Começa a escrever a mensagem. Ele tem 24 horas. No dia seguinte eles vão partir. Ele precisa abraçar Maria, sentir, pelo menos uma vez, se tudo aquilo que ele imagina, é real. Não tem coragem.

O dia de partir chegou, ele tem mais 4 horas, que é o tempo de arrumar as malas. Ele cria coragem, vai mandar a mensagem. Está no carro, digita o texto, um lindo texto. Seus olhos enchem de lagrimas. Ele pensa, respira fundo e, quando vai apertar pra enviar. Acaba a bateria. E já era Maria, já era seu amor. Maldito celular, que foi vacilar e não deixou Norberto se aproximar de quem morava ao seu lado. 


Autor:Luiz Felipe Paz
Extremismo não.

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