segunda-feira, 31 de março de 2014

Guarda-amor!

Comecei uma limpeza no meu coração. Resolvi tirar toda sujeira e coisas ruins que faziam o clima ficar pesado. Fui de cômodo em cômodo. Acendi as luzes pra poder ver melhor, percebi que tinha muita coisa esquecida. Muita coisa que eu gostava e acabei deixando de lado. Eu vi que eu me preocupei tanto com o lixo e com algumas pessoas que não valiam nada, que as pessoas que faziam tudo por mim, eu esqueci em algum canto do armário. Comecei por aí, fui organizando, colocando algumas prioridades. Peguei quem se doa, quem tem compaixão e não tem muito interesse, e coloquei num lugar especial. Peguei os sinceros e de sorrisos fáceis, os bem humorados e alto astrais e coloquei no lugar mais visível do guarda roupa. Não os organizo mais por beleza ou riqueza. Não estou nem aí com o que eles podem me oferecer, só quero o que me faz bem e o que me faz feliz. Fui olhando nos olhos, um por um, os que senti brilho e verdade, fui colocando em primeiro, todos bem dobrados e guardados com carinho. Abracei todos, um por um, os que deram tapas nas costas, coloquei no saco de lixo. Queria os que apertassem braços e coração e muita verdade entrelaçada nos braços. Conversei com todos, e os que falaram mais dos outros, do que de si, eliminei dali. Fofoca e intriga já me cansaram tanto, que não quero mais. Chega de saber quem fulano tá pegando ou de quem ciclano falou mal. Quero papos bons, falar dos livros que leram, dos filmes que viram e dos lugares que visitaram. Tava querendo gente com conteúdo, com boa música e algumas piadas. Fui eliminando os negativos e pessimistas. Quero quem acredite em sonhos, quem acredite no pote de ouro do arco íris ou o que coloca meia pro Papai Noel. Foda-se as ilusões, quero gente com mágica nos olhos e com encanto em simplicidade. Quero gente pra todas as horas, pra todos os momentos. Quero pessoas pra tragédia e pra comedia, pro riso e pro risco, pra paz e pra guerra. Quero gente que pinte a cara, e esteja pronta pra batalha, ou troque a tinta e se vista de palhaço comigo. Chega, pelo amor de Deus, de gente chata, que critica tudo e acha que sinceridade é falar tudo que pensa sobre todo mundo. Guarde suas opiniões pra você. E mostre-as com algumas atitudes. Pegue sua sinceridade e vai atormentar outra pessoa. Porque sua sinceridade gritante é grosseria e falta de educação. Ser sincero é dizer a verdade, quando perguntado, e sem a intenção de ofender os outros. Eliminei quem só ficava de cabeça baixa olhando uma tela de celular. Quero pessoas próximas a mim, conversando olho no olho. Fui vendo que quanto mais gente escrota eu ia tirando, mas meu coração ia se iluminando. As luzes ficando mais forte e o clima mais leve. Porque não fiz isso antes, porque perdi tanto tempo com pessoas babacas, sentimentos ruins e gente chata? Porque eu precisava perder esse tempo, pra dar valor nessa galera massa que esteve comigo o tempo todo e eu não vi. Prometi pra mim que faria essa limpeza com mais frequência. Que nessa correria, colocar gente que não presta é muito fácil. Vou estar sempre reorganizando minhas prioridades. Então, quanto mais abraços fortes, mais olhares que olhem a alma e mais sorrisos que sorriem com coração, mais no melhor lugar do armário, essas pessoas ficarão. Faça-me rir, e fique. Faça-me sentir verdade, me faça sentir vontade e, acima de tudo, me faça sentir liberdade de ser eu mesmo, sem medo dos seus julgamentos idiotas. Quer ficar? Não minta e não finja ser quem você não é. Se você não se encaixar aqui, tem muitos outros corações bagunçados querendo gente pra habitar. Cada um tem sua morada no coração de alguém pra ficar de verdade. Que seja louco, que seja intenso, mas que seja sincero e do bem. O resto eu coloquei pra reciclar, e que outras pessoas saibam como usar! Autor: Luiz Felipe Paz!

quinta-feira, 27 de março de 2014

Quem divide, multiplica!



Ai eu espero, na minha profunda solidão cercada de gente, que você grite por mim. Que você bata na minha porta pedindo açúcar pro seu café. Se você bater, coloco todo mundo pra correr, desligo o som e te convido pra entrar. Nem arrumo a casa. Deixo ali meus medos, alguns segredos e as roupas jogadas. Faço o café, um pão na chapa, a gente divide. A gente se divide, pra de dois sermos quatro, eu, você, seus sonhos e os meus. E da divisão, a gente se soma e de quatro, seremos um. Que cansados das outras varias divisões, nos fazemos subtrair o passado, deixando de lado cada erro e arrependimento. Agora somos eu, você, algumas roupas sujas jogadas, a televisão ligada num canal qualquer, um lençol amarrotado, suado e gemidos. São gritos exprimidos pelas mordidas nas costas, marcas de unha cravadas na pele. Somos eu e você e mais dois, meus desejos e os seus. E desses quatros, voltamos a ser um, num sexo intenso. Ai, depois de usar, e de fazermos de dois, uma multidão de sentimentos e complexidades, nos vestimos, e eu te convido a sair, voltar pro seu lugar. Você esvaziou meu coração e me fez parar a festa que ali tinha, desligou meu som, aumentou minha bagunça. E eu gostei. Vá pro seu lugar e volte amanhã. Vou arrumar a casa, vou colocar as músicas que você gosta de escutar e colocar a minha melhor roupa. Amanhã, quando você bater a porta, vai encontrar tudo limpo, prontinho pra você bagunçar de novo.


Autor: Luiz Felipe Paz

segunda-feira, 24 de março de 2014

Amar é? ...


Sabe aquela ideia que o mundo te deu sobre o amor? Que os filmes e as novelas, os livros de romance te fizeram acreditar que seria o amor? Esqueça tudo isso. Se tem uma coisa sobre esse sentimento, que devemos saber, é que ele é completamente imprevisível e que cada pessoa do planeta vai sentir de uma forma diferente. Não, não. Ciúme não é prova de amor. Ciúmes é uma desconfiança exagerada. Se confia, não sente e se não confia, tem muito mais coisa errada nesse relacionamento. Prova de amor é se preocupar com o outro, incentivar a conquistar coisas, dividir os sonhos. É cuidar e cultivar todo dia um carinho e conquistar diariamente a admiração. Prova de amor é arrancar sorrisos nos dias mais difíceis de serem arrancados, é abraçar a pessoa e dizer tantas coisas, sem falar uma palavra. O amor não é uma coisa linda como nós vemos nos filmes, com finais felizes, com beijos sempre quentes e sexo sempre intenso. Não, vocês vão ter beijos ruins, sexo sem graça, vão desejar não fazer. Ai que tá. Você percebe que, amando, até o pior sexo com aquela pessoa é a melhor coisa do mundo. Que os beijos, mesmo os frios e sem graça, vão ser beijos que você vai sentir tanta coisa dentro de você, que você não vai ter duvidas sobre o que sente. Cara entenda uma coisa. Você só vai saber o que é o amor, quando sentir isso. Não tem nada de borboletas no estomago ou sinos tocando. O amor é um sentimento confuso, maluco e que machuca às vezes. Mas ele não causa duvidas. Você ama e pronto. Se você tem duvidas se é amor, ou ainda não é, ou já deixou de ser.

Amar é perdoar no ato. Sem pensar, sem titubear. Quer prova de amor, perdoe e seja perdoado. Entenda perdoar e aceitar são coisas completamente diferentes. Você pode perdoar arrancar a raiva de você e não aceitar aquilo. Amar é ter a oportunidade de estar em qualquer outro lugar e escolher ficar. É abrir mão de algumas coisas, não de tudo. Amar é uma viagem constante ao melhor momento da sua vida. É flertar com a felicidade plena. Saiba, que dos filmes, a única coisa que você vai ter, são os telespectadores palpitando na história.


Tenha raiva, tenha dor, mas tenha amor. Tenha paz, tenha sossego, mas tenha amor. Sinta na forma de abraçar, sinta no beijo, no cheiro, na saudade e na ausência. Sinta no sexo e na companhia, sinta todo dia. Amar é muito além e muito melhor do que o mundo te fez acreditar. Amar é a coisa mais difícil e mais gostosa que já inventaram. Ignore até o que leu aqui, só sinta e viva esse sentimento. 


Autor: Luiz Felipe Paz

quinta-feira, 20 de março de 2014


Todo dia se encontravam, no mesmo banco da praça. Eram cinco amigos. Três rapazes e duas moças. Às vezes, dali iam a um bar, algumas vezes, ficavam ali. Mas sempre rindo, sempre falando sobre tudo. Tinham uma amizade de 15 anos. Conheceram-se no colégio. E no ultimo dia de aula, um misto de choro e camisetas assinadas, fizeram um pacto. Aquela amizade seria eterna. Estavam no segundo ano de faculdade e se encontravam diariamente. Quando alguma das meninas arrumava um namorado, logo ele já fazia parte da turma. E a mesma coisa acontecia com a namorada dos rapazes. O negocio era não se separarem. Eles se ajudavam. Quando um tinha perrengues financeiros, faziam vaquinha, se apertavam, mais emprestavam a grana. E depois, pagava-se como dava, com bebidas, com caronas.
Era a segunda família um dos outros. Chamavam os pais dos amigos de tio. Dormiam na casa um dos outros, ajudavam nos trabalhos de faculdade. Era uma amizade admirada por todos. Sinceridade e intensa. Inseparáveis.
Eram inseparáveis. Até que Marcos conheceu uma turma na faculdade, e começou a sair muito com eles. E foi ficando, com cada vez mais frequência, ausente nos encontros. Os novos amigos de Marcos riam da cara dele, por ter amiguinhos de infância. Diziam que ele era idiota, que tinha que conhecer coisas novas. E ele foi, afastando, aos poucos, daquela galera que cresceu com ele. Marcos começou a namorar, se apaixonou e afastou completamente deles. Até que, a mãe de Marcos, apareceu na praça, no horário. Estavam os Quatro. Ela chorava muito. Amanda, estranhando a visita e a tristeza de Dona Sonia, perguntou.

-Tia Sonia, tudo bem? Aconteceu alguma coisa? Senta aqui!

-Olá meninos, desculpa aparecer aqui e atrapalhar a conversa de vocês. Mas preciso da ajuda de vocês. O Marcos não está bem.

- Tia Sonia, estamos aqui, pro que precisar. Pode dizer.

-Vocês são como filhos pra mim. E sei que são os únicos amigos que se preocupariam com ele. Ele tem andado muito estranho. Magro, fica dias sem ir em casa, quando vai, sempre sujo, pega uma muda de roupas e some com a nova turma e a namorada. Tem sumido dinheiro da minha bolsa, e algumas coisas do quarto dele também. E ontem, a policia bateu lá em casa. Dizendo que ele estava sendo procurado, por assalto a mão armada. Vocês conhecem o Marquinhos, sabe que ele não é assim. Estou desesperada. Não sei se o escondo, ou se convenço a se entregar a policia. Estou perdida. Falem com ele, ele escuta muito vocês.

-Vamos procura-lo e conversar com ele, Dona Sonia, vá pra casa e espere algum sinal dele.

Então, no outro dia, foram na cachoeira que sempre iam, tinham esperança de encontra-lo lá. Era um lugar afastado de tudo, sempre deserto e era o lugar preferido deles.
Lá estava ele, agachado, assustado, todo sujo. Cabelo raspado e muito magro. Quando viu seus amigos, Marcos abriu um sorriso, que logo foi escondido por uma vergonha gigante. Marcos esperava ouvir um sermão, então, se encolheu mais. Então, foi surpreendido. Os 4 chegaram perto, pegaram em sua mão, levantaram-no e, um por um, deram um abraço. Então, Fernando falou.

- Que saudades meu amigo. Nunca mais foi a mesma coisa sem você. Queremos, antes de falarmos alguma coisa, ouvir de você, tudo que rolou e como aconteceu.

Marcos chorava muito, vergonha, surpresa e uma felicidade em tê-los ali, perto.

-Galera, obrigado. Por estarem aqui, esse abraço foi a melhor coisa que me aconteceu nesse ultimo ano. Sim, eu assaltei uma casa, roubei um carro, prendi amarrei a família e fugi. Estava sobre efeitos da droga e queria mais. Então, logo depois daquilo, me arrependi. Deixei tudo a 5 quarteirões da casa e vim até aqui, pra refletir.

Então, Fernando falou.

-Cara, que barra. Você errou, e como amigo seu não vou deixar você se acovardar perante o erro. Não vou te julgar, não vou dizer onde errou e que seus outros amigos não prestavam. Quero que você vá pra casa, abrace sua mãe, peça perdão, então vá a policia e se entregue. Conte tudo, e pague pelos seus erros. Nós quatro, pode ter certeza, estaremos ao seu lado, o tempo todo. Antes, durante e depois. Podíamos te ajudar a fugir. Isso, falsos amigos, que só fazem o fácil e não querem seu bem, fariam. Amizade, pra nós, é falar o que você não quer ouvir, e doer na gente, mas você  estar sempre bem, mesmo quando não perceber que é pro seu bem.
Marcos estava tão fraco e comovido com aquilo, que fez exatamente como Fernando falou. Deu outro abraço em cada um, disse que os amava. Entrou no carro deles e juntos, fizeram tudo. Marcos entrou, abraçou e conversou com sua família, enquanto seus amigos esperavam lá fora. Tomou banho, trocou de roupa. Passaram numa lanchonete, ele comeu. Eles pagaram. Então seguiram rumo à delegacia. Marcos confessou tudo, todos os detalhes, contou onde tinha deixado cada objeto que tinha furtado aquele dia.

Marcos pegou cinco anos de prisão. E cumpriu os cinco. Com visitas constantes de seus amigos. E no dia que ele saiu, estavam os quatro e sua família. Todos os amigos, desmacaram compromissos, uns desmacaram viagens de negocio, pra estar ali. Era um momento de felicidade impar, na vida deles. E aquele dia, comemoram como nunca. A amizade e liberdade do amigo.
Marcos sabe, que vai carregar a culpa daquele erro, pro resto da vida. Sabe o que vai ter que aguentar, na sociedade. E, quando pensou isso, deu medo. Olhou para o lado, viu os quatro amigos ali e percebeu, que vai ser muito difícil enfrentar aquilo tudo. Só que ele tem 4 guerreiros com ele, que nunca o abandonarão. Então, se encheu de energia e pediu um brinde, e disse apenas uma frase e chorou depois, aliviado.

-Obrigado por nunca me abandonarem, até mesmo quando eu me abandonei.





Autor: Luiz Felipe Paz

segunda-feira, 17 de março de 2014

Pedido de casamento


E, depois de quatro anos de namoro, ele a chamou pra casar com o seguinte pedido:
 Eu te convido, vem sorrir comigo? Dividir uma coxinha e um guaraná? Vem ouvir das minhas musicas, me apresentar as suas e me tirar pra dançar? Vem trazer leveza pros meus dias e paz pro meu coração? Vem ser minha inspiração, o acorde que falta na minha canção. Eu te convido a brincar com meus sonhos, a sambar com a batida do meu coração. Vem me fazer feliz, pintar de giz meu quadro negro. Conta-me seus segredos. Dá-me seu primeiro pedaço de bolo. Convida-me pra jantar, me leva pro circo. Deixa-me ser seu malabarista, um equilibrista me divertindo na sua linha da vida. Me pega, amassa e joga fora e depois, como um arrependimento de um poema mal escrito, me busca no lixo e me publica. Fica, do meu lado e me protege. Me abraça como uma criança manhosa com saudades da mãe. Me pega no colo e me faz dormir. Não me deixa fugir. Divirta-se com minhas idiotices, seja idiota comigo, ria com meus amigos e me faça rir de mim.
Eu te convido, numa súbita vontade de me entregar, a ser minha mulher até o mundo acabar. E caso não queira tanto tempo, só faça meu mundo girar. Quero beijos molhados, safados como dois adolescentes apaixonados. Quero um dj pra minha balada, que guia com maestria os ritmos que minha vida deve seguir. Quero você aqui, pra dividir um café um pão de queijo e rachar a conta. Fica até onde der conta. Até onde quiser.

Aceita ser, de um menino crescido, a grande mulher?


Autor: Luiz Felipe Paz

quinta-feira, 13 de março de 2014

Na calçada.



Eram dois amigos inseparáveis. Desde a infância, faziam tudo juntos. Enquanto ele subia no pé de jambolão, ela ficava embaixo, esperando as frutinhas. Tocavam campainha e saiam correndo, ele sempre na frente, ela atrás. Eram vizinho, duas casas de diferença. Ficavam até tarde da noite conversando, sobre tudo. Só paravam quando a voz grossa, rouca do pai dela gritava “Mariana, pra dentro, vem tomar banho”. Ela ia e no outro dia, se encontravam depois da aula, com a galera. Jogavam bete, brincavam de todas as brincadeiras de criança. Era uma rotina deliciosa. Confiavam cegamente, um no outro. Ele contava tudo pra ela e vice versa. E assim, foi .Ele deu seu primeiro beijo, aos 15 anos. Um beijo cheio de dentes, nada de língua. No outro dia, nos encontros na calçada, na porta da sua casa ele contou pra ela.
-Mari, ontem eu beijei a Fernanda. Nossa, que beijo horrível. Será que todos vão ser assim?
Ela parou. Alguma coisa dentro dela berrou. Ela gostava da Fernanda, mas naquele momento, com aquela informação, sentiu raiva. Teve medo. “será que estou com ciúmes dele?” Deve ser ciúmes de amigo!
-Paulinho, acho que não. É o primeiro, a gente deve ir melhorando com o tempo. Foi só um beijo?
-Foi sim, o pai dela chegou para busca-la, tivemos que parar. Mas amanha vou tentar combinar outra coisa com ela.
Mariana sentiu outra pontadinha no coração. “porra, outro beijo? O que ele viu naquela magrela sem peito?”.
O pai dela grita, e ela, pela primeira vez sente um alivio por encerrar uma conversa com ele. Se tivesse ficado ali mais um pouco, teria demonstrado sua raiva com a situação.
Naquela noite, ela não consegue dormir. Um turbilhão de pensamentos passa pela sua cabeça. Ela nem acha ele tão bonito. Mas ela tem uma admiração profunda por ele, sua coragem, a maneira como ele sempre protegeu e cuidou dela. Ela é nova, nunca sentiu aquilo por ninguém, e estava confusa, com medo de estar confundindo. Tem um medo enorme de estragar a sua amizade mais sincera, duradoura e a mais bonita. Resolve não comentar. Era o primeiro segredo entre eles.
O tempo passa o tempo de conversa depois da aula, na calçada já não é tão frequente. Chegam às provas. Eles precisam estudar. Sentem uma falta absurda um do outro. Parece que ela não consegue dormir do mesmo jeito, sem conversar com ele. Ele trazia uma paz, que ela não conseguia em outro lugar, em outros abraços. Ela tinha nele, naquele grande amigo, um porto seguro que ela não tinha em nenhum outro lugar.
Eles vão pra faculdade. Paulinho bate na porta de Mariana, a chama pra conversar na calçada. Estava com saudades dos papos, dela. Eles riam muito juntos. Conversam sobre horas, colocam o papo em dia. E num desses assuntos, Mariana repara.
-Paulo, vejo que está mais sorridente do que da ultima conversa. O que foi?
Ele ri e diz
-É garota, tu me conhece. Mari estou apaixonado. Conheci uma menina na faculdade. Linda, meiga, inteligente e engraçada. Estamos começando a sair agora. Não sei se vai dar certo, mas estou muito afim de tentar algo serio com ela.
O mundo de Mariana desaba. Ela deixa cair uma lagrima.
-O que foi Mari?
-Problemas aqui em casa.
Ela desconversa, entra. Pela primeira vez, entra sem o grito do pai.
Noite em claro, choro no travesseiro, uma vontade louca de sumir. Ali, ela toma uma decisão. Ia se afastar, não estava fazendo bem. Ela gostava dele e não tinha coragem de contar. Tinha medo de ele brigar com ela. Queria ter a imagem daquela amizade de 20 anos, como algo bom. Ela simplesmente ia sumir. Afastar. E colocaria a desculpa no tempo, na correria do dia a dia.
Então assim ela faz.
E tempo vai passando, e eles ficam dias sem se falar. Ele começa a namorar, ela foca tudo nos estudos. Medicina não é um curso fácil.
Quando ela começa a esquecer daquilo tudo. Um ano depois daquela conversa com ele, a ultima conversa dos dois, está sentada, estudando. Ouve a campainha tocar. Três toques, como só Paulinho fazia. Ela gela o coração. Arruma-se rapidamente e sai.
-Uma saudade enorme tomou conta de mim, podemos conversar?
-Logico Paulinho, mas coisa rápida que tenho prova amanha.
Conversam sobre algumas coisas. As coisas entre eles nunca mudam. Começam  a brincar, riem. Ela percebe que precisa parar se não nunca vai esquecer aquele menino. Tenta saber como está o namoro dele.
-Paulo, como está seu namoro?
-Então Mari, foi por isso que vim aqui. Eu terminei.
-Por quê? Você parecia gostar tanto dela?
-Porque ela não era você! Percebi, com o tempo, que eu procurei você nela o tempo todo. Ela não tinha seu sorriso confortante. Ela não tinha esse olhar que você tem que consegue olhar a minha alma e me entender como ninguém. Ela não tinha seu abraço, que com dois braços unem nossos corações e fazem deles um só, por alguns instantes. Ela não tinha sem senso de humor, sua criatividade absurda. Ela nunca me fez rir, Mari. Nem de cerveja ela gostava. Ela era uma pessoa espetacular. Mas tinha um defeito: Não era você.
Mariana não consegue esconder o sorriso. Ela vai em direção de Paulo e dá um abraço longo. O abraço mais demorado entre eles.
-Cara, desde os 15 anos, eu guardo esse segredo comigo. Eu sou apaixonada em você. Ninguém nunca cuidou de mim e me protegeu, como você. Ninguém fez meus deveres de matemática ou tocou violão pra mim, na calçada, como você. Ninguém fez tudo incrivelmente bem feito como você. Só que tenho muito medo de te perder, se tivermos alguma coisa e não der certo. Como fazemos?
-Tentamos. Desculpa Mari, mas não posso perder a mulher mais incrível que eu conheci na minha vida. Corremos o risco, mas não é possível que esse amor, que tenho dentro de mim a 20 anos, tenha se enganado.
Então, ele se aproxima e tenta beija-la. Ela afasta. Ele estranha, ela ri e diz.
-Se vamos fazer isso, vamos fazer com calma e começar diferente. Quero que você traga flores e me busque amanhã. Coloque sua melhor roupa. E no final da noite, se você merecer. Beijamo-nos.
-Combinado, Amanha, as 20:00 te busco.
Ele chega, pegou o carro do pai, ela linda. Saem, comem. Ele tenta beija-la a noite inteira. Nada. Quando está deixando ela em casa. Ele tira o cinto e tenta o beijo de despedida. Ela nega e diz.
-Desce do carro, abre a porta pra mim.
Ele acha graça, adora ver ela se divertindo com aquilo. Ele abre a porta. Ela o abraça, pega em suas mãos e o leva para a calçada, no mesmo lugar que sempre sentaram.
-Pronto, aqui, no lugar que construímos todo esse sentimento. Beija-me aqui, na nossa calçada.
E naquela noite o pai dela não grita. Nada atrapalha. Porque quando é pra ser, até o universo conspira a favor.

Autor: Luiz Felipe Paz.






domingo, 9 de março de 2014

Repare a bagunça

Não. Eu não exijo eternidade. Não quero que você entre na minha vida pra ficar. Quero que você aceite o desafio de me mudar. Me fazer crescer, me fazer pensar. Me tirar do meu comodismo. Quero alguém que me surpreenda. Me leve a fazer as loucuras que não tenho coragem. Que me tire do serio, que me tire o juízo, que me tire o folego. Quero alguém diferente de tudo que eu já tive. Alguém disposto a se entregar, a fazer de momentos simples,memorias extraordinárias. Aceite que, pra invadir a minha vida, você vai ter que bagunça-la. Eu me viro pra concertar. Quero a loucura de um amor sincero. To cansado do mesmo de sempre. Aquele amor de filme, com final feliz? Dispenso. Meu gênero é a comedia e eu quero alguém que me acompanhe nas risadas. Quero companhia pro chope de domingo, pra balada de sexta e pro filme de segunda. Quero que discorde de mim, que discuta e debata comigo. Quero que saiba de politica, de futebol, de economia, mas que fale palavrão e fale coisas sem sentidos. Me faca rir, me faca bem. Sabe a nora que minha mãe sempre sonhou? Seja o contrario disso. Quero beijos longos, quentes, com vontade e um sorriso levado no final. Quero aventurar malucas, quero cabelo bagunçado, alguns arranhões e marcas nas costas. Quero que você se entregue de corpo, alma, mente e coração. Não quero nada pela metade. Tem que ser verdadeiro, tem que ser maluco. Tem que ter coisas que eu não teria coragem de contar pra ninguém. Quero memorias que me arranque gargalhadas espontâneas.

Se aceitar o desafio, pegue seus medos junte com os meus e se joga. Pode vir, me fazer ser melhor e ir embora, quando bem entender. To cansado de gente que veio pra ficar, mas não pra me mudar. O final feliz depende da hora que a gente desliga o filme. A gente escolhe essas coisas. Quero uma pitada de loucura. Bagunce minha agenda, quero que a segunda seja sábado, que a quarta seja sexta e que o domingo seja um recomeço de fantasias.  De fato, não sei o que eu quero.  Só não quero alguém igual a tudo que já tive. Vem, sem malas e sem expectativas. Traz só uma vontade infinita de viver, porque eu to querendo que seja inesquecivel, mesmo que não
dure quase nada!

quarta-feira, 5 de março de 2014

mascarando o medo!


Ele acordou com aquele gosto de cabo de guarda chuva na boca, aquela ressaca depois de cinco dias de carnaval. A quarta feira de cinzas amanheceu nublada. Ele não estava mais cercado dos vários amigos, que dividiram com ele uma casa e varias caixas de cerveja. Ele não tinha mais as mascaras, onde escondia suas franquezas e medos. Não tocava mais aquela musica irritante, num volume exagerado, que fazia ele não escutar o grito de socorro da sua alma. Era ele, um vazio profundo e um céu nublado. O cara cheio de si, cheio de nomes e cheio de meninas era um nada, sem ninguém. A menina que ele tentou esquecer em outras meninas continuava aparecendo em sua mente, continuava sentindo o cheiro dela, do seu cabelo macio. Continuava ouvindo a voz rouca, doce, pedindo colo. Então ele percebeu que o carnaval pra ele foi como um saco de pão cheio de ar. Ele se encheu de nada e isso acabou. Ele terminou pra viajar, um namoro de 3 anos, trocou por 5 dias de festa. Ela não viajou, ficou em casa, leu alguns livros, ouviu algumas musicas e curtiu a sua fossa. Pra ela, a quarta feira de cinzas foi mais um dia de saudades. Mas ele percebeu, que ela ganhou cinco dias, se recuperando e percebendo que aquele cara era só mais um, podendo fazer a escolha pelo certo, quis o duvidoso. Ele perdeu cinco dias, numa tentativa frustrada de provar pra ele mesmo que sua decisão era correta.
Ela foi se recuperando, sem forçar nada, deixando as coisas agirem no tempo certo. Foi conhecendo outras pessoas, vivendo outras historias. Aquele fim de relacionamento fez aquela menina frágil e dependente, se tornar uma mulher madura e cheia de amor próprio. Ele não, ele fica todo dia se arrependendo daqueles cinco dias. Tudo que ele queria eram aquelas mascararas de carnaval, pra esconder a vergonha da escolha burra que ele fez.


Autor: Luiz Felipe Paz
Extremismo não.