Tomo meu banho, coloco uma roupa que comprei há uns dois dias atrás. Marco com alguns amigos em um barzinho. Estou numa fase muito maneira da minha vida. Estou super bem no meu emprego, vendendo e conquistando novos clientes. Estou conhecendo muitas pessoas e tendo ótimos papos. Faço planos de viajar com os amigos nas férias. Estar sozinho nesse momento é ideal. Marcamos de conversar sobre a viagem, tomar um porre e ouvir boa musica. Chego 20 minutos antes do combinado, quero pegar uma mesa pra gente, são 6 amigos. Aproveito pra pedir um chopp. Um cara, com um violão e uma bonita voz, toca todos os estilos e todas as músicas. Sexta-feira, estou cansado depois de um longo dia de trabalho, aproveito aquele momento sozinho pra relaxar. Os amigos vão chegando e sentando. Vamos bebendo e conversando sobre tudo. Proibimos de falar sobre os nossos empregos. Falamos de futebol, num papo animado. Estou no meu terceiro chopp, quando olho pra mesa da frente, estão quatro mulheres lindas, mas meu olho parou em uma em especial. Ele parou no sorriso dela. Ela tinha uma maneira de sorrir que me agradou. Um sorriso doce, meio sacana. Ela mexia lentamente a cabeça, no ritmo da música. E, ao mesmo tempo em que dançava, ria das amigas, e vez ou outra, bebia sua cerveja, em um copo americano. Era loira, não usava muita maquiagem. Ela sabia que era bonita e parecia fazer tudo em câmera lenta, pra ser observada. As horas foram passando, e eu mais prestava atenção nela no que na conversa dos meus amigos. Cara, sinistro, eu sou tímido e não tenho vocação nenhuma para conquistar mulheres, mas eu precisava dizer pra ela, que ela era bonita. Ela sabia, mas eu precisava dizer que eu tinha reparado. Ela levantou, percebi que ela ia ao banheiro. Aproveitei para ir também e, caso rolasse coragem, eu ia dizer. Quando ela saia do banheiro, fingi esbarrar, ela me olhou e pediu desculpas. Eu olhei, ela da cabeça aos pés. Pés que calçavam um chinelinho de dedo branco. Ela usava um short jeans largado, e uma blusa branca do Ramones. Pedi desculpas e disse:
-Eu precisava te dizer. Você é muito linda. Juro, não tenho intenção nenhuma, só precisava dizer isso.
Ela, com aquele sorriso que me hipnotizava, falou:
-Obrigado. Hoje estava com auto-estima baixa, foi bom ouvir isso.
Me deu um beijo no rosto e saiu. Feliz, cantando a música da Legião Urbana que o cara tocava e cantava, no seu violão e voz. Sentei em minha mesa e continuei conversando, mas encarando-a. Senti que ela percebeu e, vez ou outra, dava um sorriso ou me olhava, e quando via que eu a olhava, desviava o olhar. A conversa foi ficando animada e acabei me distraindo. Quando procurei ela, pra mais uma olhada rápida, percebi a mesa vazia e o garçom tirando os copos. Ela tinha ido embora, como num passe de mágica, havia sumido. Como eu ia achar aquela menina? Moro numa cidade enorme, não tinha nada dela que eu pudesse procurar. Devia ter pedido o telefone, mas a timidez não deixou. Levanto, despeço dos meus amigos e vou ao caixa pagar a conta. Triste, por ter perdido a oportunidade de conversar mais com ela.
Entro no carro, e começo a pensar. Estou feliz sozinho. Estou conquistando tantas coisas, planejo tantas coisas, uma mulher daquela não podia aparecer agora, ainda bem que não peguei contato. Decido não pensar mais naquilo. Quando estou entrando em casa, um número estranho me liga, não costumo atender números que não conheço, mas por achar que podia ser um amigo no bar, precisando de algo, atendo:
-Alô, esse celular é do Fernando?
-Opa, é sim, com quem eu falo?
-Fernando, aqui é a Vanessa, a menina do bar que estava na mesa em frente a sua.
Caraca, será que era a loira do bar. Mas como? Como ela tinha conseguido o meu telefone?
-Vanessa? A Loira linda do sorriso maravilhoso? Como você conseguiu meu número?
-Você ter me parado, ter me elogiado, mexeu muito comigo, eu estava precisando daquilo. Vi um amigo seu indo ao banheiro, bem na hora que estávamos indo embora, aproveitei e peguei seu telefone com ele. Algum problema?
-Lógico que não, eu pensei em pedir seu número a noite inteira, mas a vergonha não deixou. Ainda bem que fez, porque eu pensei em você no caminho todo. Você tem alguma coisa no seu sorriso que me encantou. Então, preciso te ver de novo. Podemos marcar alguma coisa?
-Podemos sim, um amigo meu toca em uma boate amanhã e quero ir vê-lo, quer me acompanhar?
-Lógico. Te busco amanhã às 22h, pode ser?
-Não, eu vou no meu carro, me encontra na porta da boate às 23h.
-Ok, beijos.
Chego em casa e durmo, estou um pouco assustado com o que rolou. Mas muito feliz, não é todo dia que um mulherão daquele me dá bola. No outro dia, fico ansioso. As horas não passam, quero encontrar aquela menina outra vez. Arrumo um milhão de coisas pra fazer. Até que chega a hora de me arrumar e ir encontrá-la. Então, eu vou. Às 23h, estou no local marcado. Ela atrasa 20 minutos, e quando chega faz valer a pena esperar. Está linda. Quando ela me vê, sorri. Sorrio de volta. Ela me abraça, um abraço demorado. E entramos na boate. Ela conhece todo mundo, do porteiro ao cantor. Cumprimenta muita gente, sempre muito educada e sorridente com todo mundo. Vou ficando cada vez mais encantado. Curtimos a noite toda juntos, música boa, ela conhece muitas pessoas ali. E ela fez questão de estar a todo o momento perto de mim, sempre querendo me agradar. Eu não bebo, estou dirigindo. Queria levá-la em casa, mas lembro que ela está de carro. Decido me despedir, e dizer que ligo outro dia pra combinar alguma coisa. Quando me aproxima, ela pede:
-Fernando, acho que bebi um pouquinho, não quero dirigir assim. Você me leva em casa?
-E seu carro? Como faremos?
-A Camila amiga minha vai levá-lo, amanhã ela deixa lá em casa.
-Levo sim, vamos?
Ela despede de todo mundo e sai da balada. Entramos no carro, ela vai explicando o caminho. Se lembrando aos poucos onde mora. Acho graça daquilo. Chegamos na casa dela, ela se despede. Seguro seu braço e digo:
-Já te deixei escapar uma vez, não vou deixar de novo. Não dá pra ficar contando com a sorte toda vez.
E nisso, dou-lhe um beijo longo. Ela assustada, mas querendo, retribui o beijo. E ficamos ali durante uma hora, entre beijos e carinhos, sem falar uma palavra. Então, ela diz que precisa ir embora, que está com sono. Então, a seguro pelo braço mais uma vez e digo:
-Eu não planejo e não queria ninguém na minha vida por agora. E talvez seja muito cedo pra dizer isso. Só que, esse sorriso seu, eu preciso ter comigo. Então, eu vou embora, mas vou voltar, porque você vai ter que ser minha e sorrir pra mim todos os dias.
Ela sorri, um misto de vergonha e felicidade e entra.
Saio dali certo de que vou namorar aquela menina. Não importa ter conhecido há pouco tempo e ainda não ter sentimento. Eu sei que estou encantado. Logo ele, o rapaz frio, que não se envolve com ninguém, está completamente preso naquele sorriso. E no caminho, vê um outdoor de propaganda de pasta de dente que diz “escove bem os dentes, você não tem ideia do poder de um sorriso”. Rio, dou gargalhadas e repito alto “você não tem ideia do poder de um sorriso”. Então, pego o celular e envio a seguinte mensagem pra ela: “nem te conheço direito e nem sei o que pode rolar entre a gente, mas seu sorriso me fez querer mais. Te ligo amanhã”.
E, sem perceber, ele vai sorrindo o caminho todo. E como numa multiplicação de sorrisos, o sorriso dela faz aquele homem frio sorrir o coração!
Autor: Luiz Felipe Paz!
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