quinta-feira, 20 de março de 2014


Todo dia se encontravam, no mesmo banco da praça. Eram cinco amigos. Três rapazes e duas moças. Às vezes, dali iam a um bar, algumas vezes, ficavam ali. Mas sempre rindo, sempre falando sobre tudo. Tinham uma amizade de 15 anos. Conheceram-se no colégio. E no ultimo dia de aula, um misto de choro e camisetas assinadas, fizeram um pacto. Aquela amizade seria eterna. Estavam no segundo ano de faculdade e se encontravam diariamente. Quando alguma das meninas arrumava um namorado, logo ele já fazia parte da turma. E a mesma coisa acontecia com a namorada dos rapazes. O negocio era não se separarem. Eles se ajudavam. Quando um tinha perrengues financeiros, faziam vaquinha, se apertavam, mais emprestavam a grana. E depois, pagava-se como dava, com bebidas, com caronas.
Era a segunda família um dos outros. Chamavam os pais dos amigos de tio. Dormiam na casa um dos outros, ajudavam nos trabalhos de faculdade. Era uma amizade admirada por todos. Sinceridade e intensa. Inseparáveis.
Eram inseparáveis. Até que Marcos conheceu uma turma na faculdade, e começou a sair muito com eles. E foi ficando, com cada vez mais frequência, ausente nos encontros. Os novos amigos de Marcos riam da cara dele, por ter amiguinhos de infância. Diziam que ele era idiota, que tinha que conhecer coisas novas. E ele foi, afastando, aos poucos, daquela galera que cresceu com ele. Marcos começou a namorar, se apaixonou e afastou completamente deles. Até que, a mãe de Marcos, apareceu na praça, no horário. Estavam os Quatro. Ela chorava muito. Amanda, estranhando a visita e a tristeza de Dona Sonia, perguntou.

-Tia Sonia, tudo bem? Aconteceu alguma coisa? Senta aqui!

-Olá meninos, desculpa aparecer aqui e atrapalhar a conversa de vocês. Mas preciso da ajuda de vocês. O Marcos não está bem.

- Tia Sonia, estamos aqui, pro que precisar. Pode dizer.

-Vocês são como filhos pra mim. E sei que são os únicos amigos que se preocupariam com ele. Ele tem andado muito estranho. Magro, fica dias sem ir em casa, quando vai, sempre sujo, pega uma muda de roupas e some com a nova turma e a namorada. Tem sumido dinheiro da minha bolsa, e algumas coisas do quarto dele também. E ontem, a policia bateu lá em casa. Dizendo que ele estava sendo procurado, por assalto a mão armada. Vocês conhecem o Marquinhos, sabe que ele não é assim. Estou desesperada. Não sei se o escondo, ou se convenço a se entregar a policia. Estou perdida. Falem com ele, ele escuta muito vocês.

-Vamos procura-lo e conversar com ele, Dona Sonia, vá pra casa e espere algum sinal dele.

Então, no outro dia, foram na cachoeira que sempre iam, tinham esperança de encontra-lo lá. Era um lugar afastado de tudo, sempre deserto e era o lugar preferido deles.
Lá estava ele, agachado, assustado, todo sujo. Cabelo raspado e muito magro. Quando viu seus amigos, Marcos abriu um sorriso, que logo foi escondido por uma vergonha gigante. Marcos esperava ouvir um sermão, então, se encolheu mais. Então, foi surpreendido. Os 4 chegaram perto, pegaram em sua mão, levantaram-no e, um por um, deram um abraço. Então, Fernando falou.

- Que saudades meu amigo. Nunca mais foi a mesma coisa sem você. Queremos, antes de falarmos alguma coisa, ouvir de você, tudo que rolou e como aconteceu.

Marcos chorava muito, vergonha, surpresa e uma felicidade em tê-los ali, perto.

-Galera, obrigado. Por estarem aqui, esse abraço foi a melhor coisa que me aconteceu nesse ultimo ano. Sim, eu assaltei uma casa, roubei um carro, prendi amarrei a família e fugi. Estava sobre efeitos da droga e queria mais. Então, logo depois daquilo, me arrependi. Deixei tudo a 5 quarteirões da casa e vim até aqui, pra refletir.

Então, Fernando falou.

-Cara, que barra. Você errou, e como amigo seu não vou deixar você se acovardar perante o erro. Não vou te julgar, não vou dizer onde errou e que seus outros amigos não prestavam. Quero que você vá pra casa, abrace sua mãe, peça perdão, então vá a policia e se entregue. Conte tudo, e pague pelos seus erros. Nós quatro, pode ter certeza, estaremos ao seu lado, o tempo todo. Antes, durante e depois. Podíamos te ajudar a fugir. Isso, falsos amigos, que só fazem o fácil e não querem seu bem, fariam. Amizade, pra nós, é falar o que você não quer ouvir, e doer na gente, mas você  estar sempre bem, mesmo quando não perceber que é pro seu bem.
Marcos estava tão fraco e comovido com aquilo, que fez exatamente como Fernando falou. Deu outro abraço em cada um, disse que os amava. Entrou no carro deles e juntos, fizeram tudo. Marcos entrou, abraçou e conversou com sua família, enquanto seus amigos esperavam lá fora. Tomou banho, trocou de roupa. Passaram numa lanchonete, ele comeu. Eles pagaram. Então seguiram rumo à delegacia. Marcos confessou tudo, todos os detalhes, contou onde tinha deixado cada objeto que tinha furtado aquele dia.

Marcos pegou cinco anos de prisão. E cumpriu os cinco. Com visitas constantes de seus amigos. E no dia que ele saiu, estavam os quatro e sua família. Todos os amigos, desmacaram compromissos, uns desmacaram viagens de negocio, pra estar ali. Era um momento de felicidade impar, na vida deles. E aquele dia, comemoram como nunca. A amizade e liberdade do amigo.
Marcos sabe, que vai carregar a culpa daquele erro, pro resto da vida. Sabe o que vai ter que aguentar, na sociedade. E, quando pensou isso, deu medo. Olhou para o lado, viu os quatro amigos ali e percebeu, que vai ser muito difícil enfrentar aquilo tudo. Só que ele tem 4 guerreiros com ele, que nunca o abandonarão. Então, se encheu de energia e pediu um brinde, e disse apenas uma frase e chorou depois, aliviado.

-Obrigado por nunca me abandonarem, até mesmo quando eu me abandonei.





Autor: Luiz Felipe Paz

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