segunda-feira, 5 de maio de 2014

Você é o cara!


Você é o cara que mais me ensinou nessa vida. Meu time de futebol... quantas memórias loucas, da gente sentado em frente à TV, você gritando quando era gol, ou aquele silêncio estranho quando perdíamos. Acho que nem importava muito o resultado, o legal era dividir aquela paixão com você. Lembro-me de acordar aos domingos e ver você sentado no sofá, torcendo por Ayrton Senna. Lembro-me do brilho nos olhos quando falava dos jogadores do passado e de como eram melhores que os da minha geração. Eu nem concordava, mas ia aprendendo a amar o futebol por sua causa. Lembro de quando você ia torcer por mim, de ver você na arquibancada, gritando e vibrando pelas minhas jogadas. Eu era igual aos outros meninos, mas você me fazia sentir ser o maior jogador do mundo. Eu batia no peito e dizia “pro meu pai, eu sou o melhor”. Lembro de como você me ensinou algumas brincadeiras de rua. De quando jogávamos bete, pique-pega, pique-esconde e quando você me dava pezinho para eu subir nas árvores de jambolão, para pegar as frutinhas mais doces. Quantas vezes éramos nós dois, sendo um time, contra outros dois, numa rua deserta, quatro chinelos e a imaginação de estar no Maracanã. Você foi meu Zico, meu Pelé. Foi meu Chico Buarque, Meu Caetano. Você foi meu Wiliam Shakespeare, foi meu Luís Fenando Verissimo. Você foi meu professor de matemática nas tabuadas que tomava, o professor de história, nas histórias da vida que me contava. Você foi muitas coisas e, principalmente, você foi um amigão! Lembro com carinho das nossas viagens, a gente num carro, você guiando e nos contando histórias, muitas repetidas, mas tínhamos o mesmo interesse. E não importava se enfrentava minotauros e monstros ou se era sobre sua infância, jogando bola descalço, nós adorávamos. Adorávamos as músicas e as brincadeiras. Eu adorava subir nas suas costas e você me impulsionar, jogando pra frente e eu voar e cair na água. Me sentia o máximo. Aí você jogava meus irmãos e repetia aquilo várias vezes. Lembro de sentar no quiosque da praia e beber aguá de coco, e você inventar várias histórias de como a água entra para dentro do coco. Sua imaginação, sua criatividade e a sua vontade de fazer a gente se encantar com tudo, me fez ver o mundo da maneira que vejo hoje. A gente cresce, o tempo passa... Lembro-me de chegar e contar para você sobre minha primeira vez. Estava morrendo de vergonha e você, com aquele jeito seu de fazer tudo parecer tão normal, me deu conselhos, me apoiou. Como apoiou em várias decisões que tomei. Você era meu porto seguro, para quem eu corria quando alguma coisa acontecia. E era o monstro que me dava medo quando as notas eram ruins. Quando somos moleques, não entendemos o porquê de algumas brigas, de alguns puxões de orelhas. A gente amadurece e, com o tempo, passa a entender. Eu ficava impressionado como você conseguia fazer as pessoas gostarem de você. De como fazia todo mundo se dar bem, como acolhia a qualquer um, como era elo entre os diferentes. Eu sempre observei isso, e tento ao máximo colocar em prática esse tanto de coisas que aprendi com você. Você é O Cara, o cara foda com as palavras, que me ensinou a amar a escrita, as letras e esse mundo da imaginação. O cara malandro que, com jeitinho e lábia, consegue resolver as coisas. Você é o cara que acredita nos meus sonhos, que torce pelos meus irmãos. Que incentiva, que sabe a hora de falar não. Que sabe o momento exato de dizer “se quiser, faz, mas não foi isso que eu te ensinei”. E fazer com que eu pense duas vezes antes de qualquer atitude que pudesse te magoar. Você é o cara que me ensinou tudo isso, mas nunca me obrigou a seguir seus passos, sempre me deu liberdade para fazer o meu caminho, da maneira que eu quiser. Pai, meu grande amigo, meu irmão mais velho, meu professor, meu zagueiro e meu escritor. Obrigado por me ensinar tanta coisa, por me fazer ver o mundo sem a maldade que as pessoas exigem. Obrigado por acreditar em mim, por me fazer amar meus irmãos e por me ensinar a ter tantos amigos de verdade por perto. Eu quero ser pros meus filhos, o pai que você foi pra mim. Quero que eles possam olhar pra mim e ter o mesmo olhar que eu tenho por você. Uma lágrima escorrer, o peito arder de orgulho, e apontar para todo mundo e dizer: “cara, aquele cara, que é O Cara, é meu pai!"

Autor: Luiz Felipe Paz

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