Ai eu espero, na minha profunda solidão cercada de gente, que você grite
por mim. Que você bata na minha porta pedindo açúcar pro seu café. Se você
bater, coloco todo mundo pra correr, desligo o som e te convido pra entrar. Nem
arrumo a casa. Deixo ali meus medos, alguns segredos e as roupas jogadas. Faço
o café, um pão na chapa, a gente divide. A gente se divide, pra de dois sermos
quatro, eu, você, seus sonhos e os meus. E da divisão, a gente se soma e de
quatro, seremos um. Que cansados das outras varias divisões, nos fazemos
subtrair o passado, deixando de lado cada erro e arrependimento. Agora somos
eu, você, algumas roupas sujas jogadas, a televisão ligada num canal qualquer,
um lençol amarrotado, suado e gemidos. São gritos exprimidos pelas mordidas nas
costas, marcas de unha cravadas na pele. Somos eu e você e mais dois, meus
desejos e os seus. E desses quatros, voltamos a ser um, num sexo intenso. Ai,
depois de usar, e de fazermos de dois, uma multidão de sentimentos e
complexidades, nos vestimos, e eu te convido a sair, voltar pro seu lugar. Você
esvaziou meu coração e me fez parar a festa que ali tinha, desligou meu som,
aumentou minha bagunça. E eu gostei. Vá pro seu lugar e volte amanhã. Vou
arrumar a casa, vou colocar as músicas que você gosta de escutar e colocar a
minha melhor roupa. Amanhã, quando você bater a porta, vai encontrar tudo
limpo, prontinho pra você bagunçar de novo.
Autor: Luiz Felipe Paz
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