quarta-feira, 30 de julho de 2014

Malabarista da vida!


Era uma segunda feira qualquer, estava indo ao trabalho, som do carro ligado, paro no semáforo. Uma mulher, com 5 bolinhas na mãos, começa a joga-las pro alto e fazer malabarismo. No começo, distraído com a musica, nem reparei nela. Dai, decido olhar, já que aquele sinal era demorado e eu o conhecia bem. Quando bato o olho nela, fico hipnotizado. Ela era linda. Simples, com uma calça jeans rasgada e suja, um moletom velho, e dreads na cabeça. Ela tinha um sorriso, e uma maneira de jogar aquelas bolas pra cima com tanta graça, que fiquei perplexo com a beleza dela. O sinal abriu, ouvi a buzina do carro de trás e acelerei. Fui ao trabalho e não consegui tirar aquela morena da cabeça. Quando fui almoçar, ela já não estava mais lá. Torci pra no dia seguinte encontra-la, iria dar um dinheiro e perguntar seu nome. No dia seguinte, lá estava ela, mesma calça, mesmo moletom e um sorriso ainda mais bonito. Quando ela aproximou do meu carro, deu algumas moedas, que era o que eu tinha, ela retribuiu com uma  risadinha delicada, quando fui perguntar seu nome, ela tinha para o outro carro pegar a grana do cara, o sinal abriu e tive que ir. E assim foi por 4 meses, todos os dias, eu dava umas moedas, ela sorria pra mim, e eu ia embora. Até domingo, que eu não trabalhava, passava lá pra encontra-la. Aquele sorriso, de uma estranha, mudava meu dia. Eu precisava conversar com ela, saber seu nome. Queria conhecer a historia daquela mulher. Só que a vergonha e o medo do julgamento das pessoas, não deixavam, aquele semáforo era em frente meu serviço, e muita gente ia ver. Até que um dia, eu acordei cedo, me arrumei mais do que o normal, deixei o medo em casa e fui eu ia conversar com ela e convida-la pra almoçar. Por minha conta. Joguei perfume, escovei os dentes e fui, confiante. Ela não estava lá. Dei a volta, e parei em uma rua antes do semáforo e fiquei esperando, uma hora ela iria aparecer. Depois de 2 horas ali, parado, super atrasado pro meu serviço, ela não apareceu. Fui trabalhar, querendo entender o porquê dela não ter ido. Aquela semana ela não foi, e durante o mês todo não a encontrei ali. Já tinha desistido, até que certo dia, saindo do meu serviço, ela estava na porta dele. Quando eu abri a porta do carro, ela veio correndo em minha direção. Fiquei assustado e sem entender, desci do carro e esperei. Ela parou em minha frente, me olhou e falou “ o sinhô é o cara que ficava me encarando no sinaleiro né?” Eu respondi “ Sim. Me desculpa, é que fiquei encantado com o seu sorriso”. Ela sorriu um sorriso maior do que os que eu tinha acostumado a ver. Aproveitei aquele momento de timidez dela e perguntei “Porque você não apareceu mais pra fazer seus malabarismos, tenho te procurado! ’ “ uai seu moço, eu tenho um menino pequeno, ele é doente, e piorou tive que ficar no meu barraco cuidando dele. Não tem sido fácil, sabe?” “ E mesmo com um filho doente você consegue dar um sorriso bão daquele todas as manhãs?”  “ Uai, as pessoas não tem nada a ver com meus problemas, moço. E deixar de sorrir não vai ajuda a melhorar meu menino. Sorrir só ajuda a ficar menos difícil enfrentar isso tudo”. Conversando com ela descobri que ela tinha me observado, e viu eu parando o carro ali algumas vezes, então tomou coragem e veio falar comigo. Convide-a pra jantar. Ela aceitou. Conversamos muito. Ela simples, no jeito de vestir e falar, tinha uma historia linda de vida. E, naquele papo, aprendi como eu sou um babaca por reclamar da vida, tendo tudo que eu preciso. Na nossa conversa, ela não reclamou hora nenhuma, não tirou o sorriso da cara em momento algum. Na maioria das vezes, ria sem motivos aparente, e era um sorriso tão sincero e espontâneo, que me contagiou. E ali, com aquela mulher humilde, simples e sem estudos, eu aprendi a maior lição da minha vida. Prometi dar mais valor nas coisas que eu tenho e em quem eu sou. Aquele jantar foi muito agradável, e marcamos de encontrar de novo. Despedimos com um abraço forte, e fui pra casa renovado. E super feliz, agradecendo o destino pela lição que ele me deu aquele dia!


Autor: Luiz Felipe Paz

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